- Escrito por Alex Barbosa Sobreira de Miranda | Publicado em: 23 de Dezembro de 2013
- Categoria: Psicanálise
Resumo: A neurose obsessiva situa-se no campo de
estudo da psicanálise de Sigmund Freud, podendo ser entendida a partir
de uma experiência traumática que acomete a estrutura do sujeito. O
presente artigo tem a finalidade de fomentar discussões sobre a
utilização das terminologias usadas pelo DSM-IV, fazendo uma
inter-relação com a psicanálise. Assim como apresentar algumas ideias
psicanalíticas sobre a neurose obsessiva e introduzir o aspecto
obsessivo no caso “homem dos ratos”. Nesse sentido, o estudo se torna
relevante para apontar novas vertentes sobre a temática, bem como
possibilitar diálogos com a psicanálise e a psicologia.
Palavras-chave: Neurose Obsessiva, Sigmund Freud, Psicanálise.
1. Considerações Iniciais
A neurose obsessiva se caracteriza como uma doença mental grave,
podendo ser entendida a partir de um conflito decorrente de uma
experiência traumática que acomete a estrutura do sujeito no contexto
libidinal. O trabalho defensivo da neurose obsessiva consiste, portanto,
em transformar a representação forte da experiência infantil penosa
numa representação enfraquecida e em orientar para outros usos a soma de
excitação, por esse estratagema, foi desligada de sua fonte verdadeira.
Desse modo, a neurose obsessiva se desenvolve a partir do Complexo de
Édipo, onde a libido do indivíduo encontra-se fixada no estágio anal de
maturação da sexualidade. O sentimento de culpa, pode se caracterizar
como uma forte tendência do neurótico obsessivo, em que tentam usar
objetos como tentativa de aliviar conflitos internos.
As obsessões podem ser identificadas a partir de pensamentos, ideias,
sentimentos, frases, números, superstições mágicas, atitudes
compulsivas que invadem a consciência de forma repetida e recorrente, o
que provoca no sujeito uma sensação de mal-estar e impotência diante de
tais pensamentos.
Assim, o pensamento do sujeito obsessivo é abstrato, não tem uma
ligação com a realidade. Os obsessivos se preparam constantemente para o
futuro, e não conseguem viver o presente. Na psicanálise, há mais
dificuldade no tratamento desse indivíduo tendo em vista a dificuldade
de associação livre, assim como na internalização do conflito
apresentado.
2. DSM-IV e Neurose Obsessiva: um paradoxo
O DSM-IV, considera-se o Transtorno da Personalidade
Obsessivo-Compulsiva (F60. 5 - 301.4) um padrão invasivo de preocupação
com organização, perfeccionismo e controle mental e interpessoal, às
custas da flexibilidade, abertura e eficiência, que começa no início da
idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por
pelo menos quatro dos seguintes critérios:
(2) perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas (por ex., é incapaz de completar um projeto porque não consegue atingir seus próprios padrões demasiadamente rígidos);“(1) preocupação tão extensa, com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários, que o ponto principal da atividade é perdido;
(3) devotamento excessivo ao trabalho e à produtividade, em detrimento de atividades de lazer e amizades (não explicado por uma óbvia necessidade econômica);
(4) excessiva conscienciosidade, escrúpulos e inflexibilidade em assuntos de moralidade, ética ou valores (não explicados por identificação cultural ou religiosa);
(5) incapacidade de desfazer-se de objetos usados ou inúteis, mesmo quando não têm valor sentimental;
(6) relutância em delegar tarefas ou ao trabalho em conjunto com outras pessoas, a menos que estas se submetam a seu modo exato de fazer as coisas;
(7) adoção de um estilo miserável quanto a gastos pessoais e com outras pessoas; o dinheiro é visto como algo que deve ser reservado para catástrofes futuras;
(8) rigidez e teimosia.”
Tais critérios levantam as características psiquiátricas desse adoecimento, criadas com base no contexto geral, o que leva ao debate sobre destacar e entender também a história individual de cada sujeito. Essa ideia apresentada pelo DSM-IV entra em contradição com a psicanálise, que nomeia o problema de neurose obsessiva.
Uma questão que é levantada é que o DSM, ao lado da CID-10, exclui a
subjetividade e toma o sintoma pela estrutura, ou seja, aquilo que
responde à uma classe, esmaga o sujeito e o exclui de cena, uma vez que a
particularidade do sujeito não tem a ver com a classificação, mas com
aquilo que escapa a ela (GOMES, 2009).
3. Um Ideia Psicanalítica sobre a Neurose Obsessiva
Entende-se que a neurose obsessiva é uma das psiconeuroses de defesa,
pelo fato de ser resultante de uma ação “traumática” de experiências
sexuais na vida infantil e se constitui um esforço de defesa contra
qualquer representação e qualquer afeto oriundo de tais experiências e
tendem a perpetuar o que elas tinham de incompatível com o eu.
Freud em seu texto sobre as neuroses, apresenta sua
preocupação com tal problema e a partir de seus estudos sobre o tipo
clínico Neurose Obsessiva, pode entender que o paciente que analisou
gozava de boa saúde mental até o momento em que houve uma ocorrência de
incompatibilidade em sua vida representativa – isto é, até que seu eu se
confrontou com uma experiência, uma representação ou um sentimento que
suscitaram um afeto tão aflitivo que o sujeito decidiu esquecê-lo, pois
não confiava em sua capacidade de resolver a contradição entre a
representação incompatível e seu eu por meio da atividade de pensamento.
Assim, a tarefa que o eu se impõe, em sua atitude defensiva, de
tratar a representação incompatível, simplesmente não pode ser realizada
por ele. Tanto o traço mnêmico como o afeto ligado à representação lá
estão de uma vez por todas e não podem ser erradicados. Mas uma
realização aproximada da tarefa se dá quando o eu transforma essa
representação poderosa numa representação fraca, retirando-lhe o afeto –
a soma de excitação – do qual está carregada. A representação fraca não
tem então praticamente nenhuma exigência a fazer ao trabalho da
associação (GOMES et al 2009).
Desse modo, o que caracteriza a construção de uma neurose, é que o Eu
está submetido às exigências da realidade e imposições do superego.
Nesse sentido, o sujeito obsessivo passa a ter falsas conexões
psíquicas, e assim, tem a tentativa de retirar do pensamento alguma
representação incompatível, através de outros pensamentos, o que geram
diversos pensamentos ritualísticos, para conseguir lidar com tal
incompatibilidade.
4. O Caso “Homem dos Ratos” e a Neurose Obsessiva
Para responder a questão da neurose obsessiva, Freud (1909) se deteve
a estudar um caso clínico em específico. Esse estudo pôde ser conhecido
como caso “homem dos ratos”, em que tece algumas considerações sobre a
neurose obsessiva. Seu protagonista é um jovem advogado que sofria de
sintomas clássicos de neurose obsessiva, como ideias terríveis que
sempre voltam e que requerem o cumprimento de certos rituais para que
não se tornem realidade.
O paciente teme que coisas terríveis ocorram com seu pai e com uma
dama venerada. Está submetido a impulsos obsessivos, como o de fazer mal
à dama, que lhe ocorrem quando ela está ausente; mas estar longe dela
lhe faz bem. Ele se impõe interdições e se atrasa em seus estudos de
direito, pois apresenta inibições ligadas ao combate contra seus
sintomas. Ele vem consultar Freud porque leu a “Psicopatologia da vida
cotidiana”. Pode-se dizer que houve ali o encontro com o sujeito suposto
saber, encontro que o conduz à hipótese de que seus sintomas querem
dizer alguma coisa (SUAREZ, 2011).
Para analisar a formação da neurose obsessiva, Freud (1909) discorre
sobre algumas especificidades acerca da sintomatologia desse indivíduo,
como a onipotência de seus pensamentos, bem como a necessidade de
incerteza e da dúvida em suas vidas. A onipotência decorre da
superestimação dos efeitos de seus sentimentos hostis sobre o mundo
externo. Em relação a incerteza e a dúvida, o obsessivo tende a protelar
qualquer decisão e são incapazes de chegar a um decisão, especialmente
no que tange ao aspecto afetivo.
De acordo com Suarez (2011) o neurótico obsessivo é um sujeito
afetado por seu pensamento, que sofre de seus pensamentos. Na neurose
obsessiva, contrariamente à histeria, o recalcamento não é ligado à
amnésia e ao esquecimento, mas a uma disjunção da relação de causalidade
que se produz em função de um deslocamento do afeto. O sintoma
obsessivo é o resultado de deformações destinadas a mascarar o
pensamento, que provêm da censura primária. O pensamento obsessivo
torna-se alheio ao sujeito.
5. Considerações Finais
Com base nas discussões apresentadas nesse trabalho pôde-se
compreender que a estrutura neurótica obsessiva é um tipo de estrutura
que realiza várias conexões através de pensamentos ritualísticos na
tentativa de retirar da consciência algumas representações que foram
conflituosas em determinado momento da vida do sujeito. Desse modo, o
indivíduo cria uma série de estratégias ou pensamentos obsessivos a fim
de lidar com essa situação de forma mais tolerável. O debate empreendido
tem a finalidade de apontar qual a função da psicanálise no manejo com o
sujeito obsessivo, identificando que a psicanálise pretende fazer o
indivíduo falar sobre suas demandas, a fim de que este possa
ressignificar o afeto mal elaborado.
http://psicologado.com/abordagens/psicanalise/introducao-ao-conceito-de-neurose-obsessiva
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