O esquema acima
apresenta alguns elementos da hierarquia do Império. Nosso objetivo é
visualizar principalmente os modelos administrativos estabelecidos sobre os
povos conquistados.
No tempo do
nascimento de Cristo, o Imperador era Augusto, o qual instituiu o culto a si
mesmo por parte dos seus súditos.
Em algumas regiões
havia a figura do rei. Naquele mesmo período o rei da Palestina era Herodes.
Esta região teve sua divisão política alterada diversas vezes, sendo até
governada por mais de um rei em determinados momentos. Além do rei, havia em
algumas épocas e lugares a figura do procurador, ou governador. Quando Jesus
nasceu, o procurador se chamava Copônio. Na seqüência aparecem os publicanos,
os quais não possuíam poder administrativo mas tinham a função de coletar
impostos. Eram necessariamente nativos da província. Seu conhecimento da terra,
do povo, dos costumes e da língua tornava-os mais eficientes na coletoria do
que poderia ter sido um cidadão romano que fosse enviado para esse fim. Os
publicanos eram considerados por seus compatriotas como traidores, já que
cobravam impostos dos seus irmãos para entregar ao dominador inimigo. A palavra
publicano se tornou sinônimo de pecador.
Sob esse domínio
se encontrava a província. Assim era chamada qualquer região conquistada pelos
romanos fora da Itália. As províncias que se encontravam dentro desse modelo
eram administradas mais diretamente pelo Imperador. Tratava-se de regiões ainda
não pacificadas, recém conquistadas, cuja população ainda não se acomodara
sob o jugo de Roma. Nessas terras havia a presença constante das tropas
romanas, as quais se dividiam principalmente em legiões (com 6000 homens),
coortes (com 1000 homens) e centúrias (com 100 homens).
Na província
da Judéia havia uma instituição local chamada Sinédrio, o qual era formado
por 71 membros e presidido pelo sumo sacerdote. O Sinédrio era o supremo
tribunal local e tinha poderes para julgar questões civis e religiosas, uma vez
que as duas coisas eram tratadas pela mesma lei. Tais autoridades tinham até
mesmo a prerrogativa de aplicar a pena de morte contra crimes cometidos na
comunidade local. A polícia recebia ordens do Sinédrio.
Essa estrutura
pode ser claramente observada nas páginas dos evangelhos, principalmente nos
relatos que tratam da prisão, julgamento e crucificação de Cristo, o qual foi
preso pela polícia do Sinédrio, e levado diante desse tribunal local. Os
integrantes do Sinédrio, embora tivessem poder para matá-lo, parecem ter
vacilado diante de tamanha responsabilidade. Levaram-no diante do Procurador da
Judéia, Pilatos, o qual encaminhou-o para a presença de Herodes, o rei da
Galiléia. Ninguém queria assumir a responsabilidade pela crucificação.
Contudo, Cristo é devolvido a Pilatos, que considerou o lavar da mãos como ato
suficiente para isentá-lo da culpa de matar o Filho de Deus. (Mt.26.44,57,59;
27.2; Lc.23.7) Vemos aí a hierarquia governamental em evidência. O imperador
também foi lembrado naquelas circunstâncias, mas apenas para um menção rápida
em João 19.12 para pressionar o Procurador.
Havia ainda
outro tipo de província. Eram aquelas conquistadas há mais tempo e já
pacificadas. Os habitantes desses lugares tinham cidadania romana. Era o caso do
apóstolo Paulo, que nasceu em Tarso, e tinha o direito de ser considerado cidadão
romano. Tal prerrogativa proporcionava diversos direitos, principalmente
tratamento respeitoso e especial nas questões jurídicas. Um cidadão romano não
podia, por exemplo, ser açoitado. Paulo foi submetido a açoites, mas seus
algozes ficaram atemorizados quando souberam que tinham espancado um cidadão
romano (Atos 16.37-38). Com base no mesmo direito, Paulo apelou para César
quando quis se defender das acusações que lhe eram feitas (Atos 25.10-12).
CULTURA E
INFRA-ESTRUTURA
Nos dias de
Cristo, embora o império fosse romano, a cultura predominante continuava sendo
grega. O extinto império de Alexandre Magno deixou um grande legado: o
helenismo, que significa a influência cultural grega entre os povos
conquistados. Helenismo é derivado de Helas, outro nome da Grécia. Helenização
é o processo de propagação dessa cultura. Devido a essa difusão, a língua
grega se tornou de uso comum. Daí vem a expressão "grego koiné" (=
comum). As cidades gregas eram bem estruturadas. Contavam com teatros, banhos públicos,
ginásios, foros, amplas praças, hipódromos e academias. Assim, por onde quer
que o helenismo se expandisse iam surgindo cidades desse tipo. Algumas cidades
antigas se adaptavam e chegavam até a mudar de nome, adotando nomes gregos.
É por causa
desse contexto que o Novo Testamento foi escrito em grego, com exceção do
evangelho de Mateus.
Além dos
elementos helênicos, o cenário contava com estradas calçadas construídas
pelos romanos. Elas facilitavam a circulação das milícias entre as províncias
e a capital. Por essas vias transitavam também mensageiros, comerciantes e
viajantes em geral. Outro destaque da engenharia romana eram os aquedutos:
canais para levar água das montanhas para as cidades.
ATIVIDADES ECONÔMICAS
Com toda a
importância das cidades, as construções eram constantes. Além das casas,
estradas e aquedutos, as muralhas também faziam parte dos projetos. Em Jerusalém
havia uma grande obra em andamento nos dias de Jesus: o templo de Herodes, cuja
construção ocorreu do ano 20 a.C. até 64 d.C..
Outras
atividades importantes eram: transporte, agricultura, comércio, pesca,
metalurgia, cerâmica, perfumaria, couro, tecidos e armas. Em Israel, a pecuária,
além de atividade econômica, possuía status religioso por causa dos sacrifícios.
POPULAÇÃO E
RELIGIÃO
A DIÁSPORA
Nos dias do
Novo Testamento, a população judaica encontrava-se dispersa por vários
lugares. Além da própria Palestina, havia inúmeros judeus em Roma, Egito, Ásia
Menor, etc. (Atos 2.9-11; Tiago 1.1; I Pedro 1.1). Tal dispersão, que recebe o
nome de Diáspora, tem razões diversas, começando pelos exílios para a
Assíria e Babilônia, e se completando por interesses comerciais dos judeus, e
até mesmo em função das dificuldades que se verificavam em sua terra natal.
Esse quadro se apresenta como cumprimento claro dos avisos divinos acerca da
dispersão que viria como conseqüência do pecado de Israel (Dt.28.64).
Assim, o judaísmo
acabou se dividindo em função da distribuição geográfica. Havia o judaísmo
de Jerusalém, mais ligado à ortodoxia, e o judaísmo da Diáspora, ou seja,
praticado pelos judeus residentes fora da Palestina. Estes últimos
encontravam-se distantes de suas origens. Se até na Palestina, os costumes
gregos se impunham, muito mais isso ocorria na vida dos judeus em outras regiões.
Estavam profundamente helenizados, embora não tivessem abandonado o judaísmo.
Isto fez com que eles se preocupassem com o futuro de suas tradições e sua
religião. Tomaram então providências para que o judaísmo não sucumbisse
diante do helenismo. Uma delas foi a tradução do Velho Testamento do hebraico
para o grego, chamada Septuaginta. Já que este idioma estava se tornando
universal, havia o risco de que, no futuro, as escrituras não pudessem mais ser
lidas, devido à possível extinção do hebraico. Outras obras literárias
foram produzidas, incluindo narrativas históricas, propaganda e apologia
judaica, tudo escrito em grego e com influências gregas. Destacaram-se nessa época
os escritores: Fílon de Alexandria e Flávio Josefo. Tais escritos não foram
aceitos pela comunidade de Jerusalém. Até a tradução bíblica foi rejeitada,
uma vez que, para eles, toda escritura sagrada devia ser produzida
necessariamente em hebraico. Essa obra no idioma grego foi vista pelos ortodoxos
como uma descaracterização do judaísmo.
Para muitos
judeus conservadores, o judaísmo era propriedade nacional e não devia ser
propagado entre outros povos. Já os judeus da Diáspora se dedicaram a
conquistar gentios para a religião judaica. Tal fenômeno recebe o nome de
proselitismo. Os novos convertidos eram chamados prosélitos (Mateus 23.15 Atos
2.9-11; 6.5; 13.43). Essa prática difusora da religião também foi adotada por
judeus de Jerusalém, mas em escala bem menor.
Os judeus da diáspora
cresciam em número e em poder econômico. Isso se tornou incômodo para muitos
cidadãos dos lugares onde residiam. A guarda do sábado e a recusa em
participar do culto ao Imperador tornaram-se também elementos que atraíram a perseguição.
Tendo, muitos deles, fugido da opressão na Palestina, encontraram problemas
semelhantes em outras terras.
AS
SINAGOGAS, OS RABIS E OS ESCRITOS RELIGIOSOS
O surgimento
das sinagogas é normalmente atribuído ao período do exílio babilônico,
quando os judeus deixaram de ter um templo para adorar e sacrificar. O fato
indiscutível é que nos dias do Novo Testamento, tais locais de oração,
ensino e administração civil eram muito valorizados. Em qualquer localidade
onde houvesse 10 judeus, podia ser aberta uma sinagoga. Em cidades grandes
poderia haver várias, como era o caso de Jerusalém. A liderança da sinagora
era exercida pelo rabi (mestre), o qual era eleito pelos membros daquela
comunidade. Essa autonomia de eleição do rabi favoreceu o surgimento de muitos
mestres com idéias religiosas distintas. Todos estudavam a lei e elaboravam
seus ensinamentos com interpretações e comentários acerca da Torá.
Assim surgiram
as midrashs e as mishnas. Midrash era o comentário da lei. A primeira surgiu no
ano 4 a.C.. As mishnas eram os ensinamentos rabínicos. A primeira surgiu em 5
a.C.. Tudo isso compunha a tradição, que passou a ser mais utilizada do que a
própria lei. A interpretação da lei era tão desenvolvida que chegava ao
extremo de contradizer o código original (Mt.15.1-6). Assim, os escribas e
fariseus, doutores da lei, ocupavam o lugar de Moisés (Mt.23.2). Devido a essa
posição dos rabis (mestres), Jesus orientou seus discípulos a não utilizarem
esse mesmo título (Mt.23.8).
JUDAÍSMO
DIVIDIDO
Nos dias de
Cristo, a religião judaica encontrava-se dividida em seitas: fariseus,
saduceus, essênios, e outras. Cada facção se considerava o remanescente fiel
a Deus e via os demais como relaxados. Entre os fatores que contribuíram para
essa divisão, podemos citar:
- Diáspora –
A dispersão geográfica dificultou a manutenção de uma religiosidade
padronizada.
- Sinagogas –
Significaram a descentralização da orientação religiosa. Muitos rabis
representaram muitas linhas de pensamento e prática divergentes.
- Linhagem - As
misturas étnicas ocorridas no norte de Israel contribuíram para a discriminação
religiosa contra os samaritanos.
- Interpretação
– Diferentes interpretações da lei conduziam a diferentes crenças.
- Tradição
– Esta era o resultado de muitos elementos: interpretação, comentário da
lei, influências estrangeiras (gregas, romanas e babilônicas).
- Política –
Alguns judeus apoiavam Herodes e os romanos. Outros eram radicalmente contra
tais dominadores.
- Helenismo –
Os judeus se dividiam também quanto ao apoio ou combate à cultura grega que se
expandia em todo o mundo. Tais costumes eram vistos como os que hoje chamamos de
"mundanismo". Muitos judeus se deixavam levar, admirados com o
pensamento grego e o sucesso de sua cultura.
DINASTIA
HERODIANA (parcial)
As setas
indicam filiação. O posicionamento dos quadros inferiores demonstra a sucessão
no governo da Palestina.
Apresentamos
apenas parcialmente a dinastia herodiana porque nos limitamos aos nomes mais próximos
aos fatos do Novo Testamento. Nosso maior interesse é apresentar a sucessão
política na Palestina, principalmente na Judéia. Herodes Magno, também
conhecido com Herodes, o Grande, governava a Judéia quando Jesus nasceu.
Herodes teve 10 mulheres e 15 filhos, ou mais. Citamos 7 deles: Antípatro II,
Aristóbulo I, Alexandre, Filipe I, Filipe II, Arquelau e Antipas II. Herodes
matou seus filhos Alexandre, Aristóbulo I e Antípatro II. Deserdou Filipe I,
que era casado com Herodias, a qual veio a adulterar com Antipas II (Mc.6.17).
Após a morte de Herodes Magno, seu reino foi dividido entre três de seus
filhos: Arquelau recebeu a Judéia, Samaria e Iduméia. Antipas II passou a
governar a Galiléia e a Peréia. Filipe II recebeu os territórios do nordeste:
Ituréia, Tracomites, Gaulanites, Auranites e Batanéia.
Arquelau foi
deposto pelos Romanos no ano 6 d.C.. A Judéia passou então a ser governada por
procuradores romanos. Um desses procuradores foi Pôncio Pilatos (de 26 a 36
d.C.). Antipas II governou a Galiléia durante todo o ministério de Cristo. Foi
ele quem mandou degolar João Batista. À sua presença Jesus foi encaminhado
por Pilatos, já que este era procurador sobre a Judéia e foi-lhe dito que
Cristo era galileu, sendo portanto da jurisdição de Antipas.
Agripa I, filho
de Aristóbulo e, portanto, neto de Herodes Magno, foi o sucessor de Filipe II.
Aos poucos foi herdando também os territórios dos outros tios. Recebeu de
volta dos romanos a administração da Judéia e Samaria, tornando-se então rei
de quase toda a Palestina. Foi ele quem mandou matar o apóstolo Tiago e morreu
comido por vermes (At.12). Seu filho, Agripa II, foi seu sucessor. Seu território
foi então ampliado por determinação do Imperador Cláudio e ainda mais por
Nero. Foi perante Agripa II que Paulo se apresentou (At.25.23). Com a destruição
de Jerusalém no ano 70, Agripa II mudou-se para Roma e lá esteve até o ano de
sua morte (100 d.C.). Os membros da dinastia herodiana são muitas vezes
mencionados no Novo Testamento. Todos eles possuíam o título de Herodes. Por
esta razão, muitas vezes pode-se imaginar que as diversas passagens se referem
à mesma pessoa, o que não é verdade. Pela observação dos quadros
anteriores, pode-se identificar cada "Herodes" nas passagens bíblicas
em que são citados.
IMPERADORES
ROMANOS NO PERÍODO DO NOVO TESTAMENTO
César Augusto
Otaviano - ano 27 a.C. a 14 d.C. - Nascimento de Jesus - Início do culto ao
Imperador. (Lc.2.1)
Tibério
Júlio César Augusto - 14 a 27 -
Ministério e Morte de Jesus. (Lc.3.1).
Gaio Júlio César
Germânico Calígula - 37 a 41 - Quis sua estátua no templo em Jerusalém.
Morreu antes que sua ordem fosse cumprida.
Tibério Cláudio
César Augusto Germânico - 41 a 54 - Expulsou os judeus de Roma. (At.18.2).
Nero
Cláudio César Augusto Germânico
- 54 a 68 - Começa perseguição de Roma contra os cristãos. Paulo e Pedro
morrem (At. 25.10; 28.19).
Sérvio Galba
César Augusto 68 - Cerco a Jerusalém.
Marcos Oto
César Augusto - 69 – mantém o cerco a Jerusalém.
Aulus Vitélio
Germânico Augusto - 69 - mantém o cerco a Jerusalém.
César Vespasiano
Augusto - 69 a 79 – Tinha sido general de Nero. Coloca seu filho Tito como
general. No ano 70, determina a destruição de Jerusalém.
Tito
César Vespasiano Augusto - 79-81.
César Domiciano
Augusto Germânico - 81 a 96 - Exigia ser chamado Senhor e Deus. Grande perseguição.
O apóstolo João ainda vivia durante o governo de Domiciano.
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