Sexologia
Sexologia é a área do conhecimento que trata do comportamento sexual. É um fenômeno recente, com a atual abordagem datando do final do século XIX. Trata-se de uma área de atuação interdisciplinar, que abrange:
Algumas áreas da medicina (andrologia, ginecologia e a anatomia dos órgãos sexuais).
Psicologia, sociologia e antropologia do comportamento sexual.
Neurociências (o estudo da base da resposta sexual e a complexidade do comportamento sexual).
Psiquiatria (parafilias, assim como desordens que levam a inadequações).
A epidemiologia das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).
A sexologia também toca questões mais amplas, como o conceito de saúde sexual, aborto, saúde pública, controle de natalidade, abuso sexual, entre outros.
Da Revolução Sexual aos dias de hoje:
Podemos atribuir a Freud a "descoberta da sexualidade": estudando queixas de suas pacientes histéricas, observou que a maioria delas apresentava evidentemente sua sexualidade comprometida. Aprofundando os estudos neste campo, um de seus discípulos dissidentes, Wilhelm Reich, conclui que a perturbação da genitalidade não seria um sintoma (como apontava a linha freudiana), mas o sintoma definidor das neuroses. Dava grande importância à livre expressão dos sentimentos sexuais nos relacionamentos, propondo como meta da terapia das perturbações psicológicas a libertação dos bloqueios do corpo. Posteriores leituras de Reich nos anos 1960 deram força ao movimento hippie.
Alfred Kinsey, considerado o pai da sexologia, contribuiu para as pesquisas sobre a sexualidade humana com um conjunto de estudos que ficou conhecido como o Relatório Kinsey, trazendo ao meio acadêmico a insuspeitada diversidade do comportamento sexual da típica família branca de classe média dos anos 1950 (92% dos seus homens e 62% das suas mulheres se masturbava; 37% dos homens e 13% das mulheres já tinham tido uma relação homossexual que lhes tinha proporcionado um orgasmo.
Masters e Johnson publicaram, na década de 1970, inovadores trabalhos descrevendo a resposta sexual humana e doenças próprias da sexualidade. Com os estudos de Helen Kaplan e cols., da Universidade de Cornell (EUA), surge uma visão muito clara e objetiva de uma nova psicoterapia do sexo.
Um dos resultados práticos destes estudos, que exemplifica esta nova abordagem sobre a sexualidade: a homossexualidade deixa de ser considerada uma doença pela Associação Americana de Psiquiatria (1973) e OMS (1986).
A Sexologia na Prática Clínica:
O tratamento sexológico é todo o processo médico e/ou psicoterápico que tem como objetivo a correção dos distúrbios sexuais para propiciar adequação sexual.
O clínico, em sua prática diária, pode participar na prevenção e no tratamento dos transtornos sexuais. Entretanto, alguns requisitos são necessários:
1. Estar bem com sua sexualidade.
2. Conhecer os dados sobre a resposta sexual normal.
3. Dotar-se de um profundo respeito ético em relação à sexualidade do outro.
4. Conhecer todos os recursos atuais nas áreas da propedêutica e da terapêutica em sexologia.
É também desejável empatia e motivação, como em toda abordagem psicológica.
E a terapia alicerça-se principalmente sobre:
1. Orientação, dirimindo mitos e tabus, bem como legitimando o prazer sexual.
2. Reposição ou suplementação hormonal (estrogênios e androgênios).
3. Psicoterapia.
O dizer de Balint quanto ao "médico como medicamento" nessa situação torna-se transparente. Em uma abordagem em que se pesquisa um transtorno sexual, o médico pode (e deve) atuar como facilitador de ajuda. Porém, muitas vezes com preconceitos, desconhecimento e necessidade de impor valores, acaba se comportando como agente destrutivo (iatrogênico).
Kaplan diz que "o uso das experiências sexuais estruturadas sistematicamente, integradas ao conjunto das sessões terapêuticas, é a principal inovação e a característica distinta da terapia do sexo". Sua psicoterapia sexual é uma forma de terapia breve, que geralmente tem a duração de dois a oito meses, com frequência de uma sessão semanal do casal ou do indivíduo, e que trabalha fundamentalmente o comportamento sexual nos seus aspectos psicossociais, uma vez excluída a possibilidade do comprometimento orgânico na queixa sexual.
Disfunção, Desvio e Inadequação:
O estudo da resposta sexual humana nos diz que todos os homens são: iguais, do ponto de vista biológico; parecidos, do ponto de vista sóciocultural e diferentes, do ponto de vista psicológico. Por extensão, definimos os distúrbios do comportamento sexual segundo os aspectos biológico – disfunção, sociológico – desvio e psicológico – inadequação.
Disfunção:
Um indivíduo funcional é capaz de levar ao fim a resposta sexual normal (Desejo Sexual > Excitação, Orgasmo, Relaxamento). O conceito de normalidade, no que tange à funcionalidade, se confunde com o conceito de índivíduo hígido.
A disfunção então ocorre:
Em alguma fase da resposta sexual:
Apetência – inibição do desejo.
Excitação – Disfunção Erétil (DE), lubrificação inadequada.
Orgasmo – anorgasmias, distúrbios da ejaculação.
Ou na forma de transtornos dolorosos:
Vaginismo.
Dispareunia.
Parafilias:
O ambiente (grupos culturais, principais responsável por moldar nossa personalidade) nos dita certos padrões de comportamento, que serão aprendidos e/ou confrontados entre si e com o mundo individual ao longo de nossas vidas.
Podemos assumir duas posturas perante estes padrões:
Aceitação destes, assimilando-os e tornando-se um reforço destes padrões culturais.
Comportamento Desviante, sua contestação.
Classifica-se assim o desvio como sendo o "comportamento que foge a certo padrão cultural de uma sociedade em determinada época". As considerações com respeito ao que é considerado parafílico dependem das convenções sociais em um momento e lugar (o que é reprovado hoje torna-se modismo amanhã: homossexualidade, sexo oral, anal, masturbação…).
As parafilias podem ser consideradas inofensivas, salvo quando estão dirigidas a um objeto potencialmente perigoso, danoso para o sujeito ou para outros. São classificadas como distorções da preferência sexual na CID-10 (classe F65).
Classificação das parafilias:
Desvios do objeto: necrofilia, fetichismo, maiseufilia etc.
Desvios de objetivo: exibicionismo, voyeurismo etc.
Sendo:
Objeto sexual: qualquer ser (animado ou não) alvo da atração sexual.
Objetivo sexual: "a união sexual, ou atos que conduzam a esta união".
Inadequação:
A diferenciaçao entre adequação e inadequação segue critérios psicológicos. É um conceito relacionado ao equilíbrio interno de cada parceiro e de interações equilibradas entre eles:
Um indivíduo Adequado não se queixa, está satisfeito.
Um indivíduo Inadequado não está bem consigo mesmo ou com seu parceiro.
Um casal pode ser considerado adequado mesmo portando disfunções (homem impotente e mulher vagínica) ou desvios (homem sádico e mulher masoquista).
Em nosso meio, a inibição do desejo é a mais comum queixa sexual feminina, e anorgasmia e dispareunia também muito frequentes. Com relação aos homens, transtornos eretivos e ejaculação precoce são predominantes. Outra inadequação corrente é relativa à frequência das relações sexuais em um casal. Apesar de um ciclo da resposta sexual completo, há queixa pela desproporção entre o apetite sexual dos parceiros.
Outros distúrbios:
Transtorno de identidade sexual (transexualismo): a incompatibilidade entre anatomia genital e identidade sexual.
Ocorrem tanto as formas transexual de homem a mulher quanto transexual de mulher a homem, apesar de o primeiro ser muito mais frequente (possui corpo masculino, mas percebe-se como feminino).
É a indicação da cirurgia de mudança de sexo (Kaplan, 1985). Intervenção tecnicamente simples, mas complexa devido às questões emocionais, legais e sociais que envolve. Por ser uma mudança irreversível, deve ser muito bem avaliado e indicado: "é preciso que a parte estrutural da mente da pessoa peça isso e não por uma fantasia, uma necessidade de momento, ou por achar que uma cirurgia vai resolver uma tendência afetivo-sexual diferente".
Homossexualidade egodistônica:
Há padrão de conduta homossexual, mas associado a descontamento com essa realidade. O indivíduo possui um desejo homossexual que não quer e que causa mal-estar.
Algumas áreas da medicina (andrologia, ginecologia e a anatomia dos órgãos sexuais).
Psicologia, sociologia e antropologia do comportamento sexual.
Neurociências (o estudo da base da resposta sexual e a complexidade do comportamento sexual).
Psiquiatria (parafilias, assim como desordens que levam a inadequações).
A epidemiologia das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).
A sexologia também toca questões mais amplas, como o conceito de saúde sexual, aborto, saúde pública, controle de natalidade, abuso sexual, entre outros.
Da Revolução Sexual aos dias de hoje:
Podemos atribuir a Freud a "descoberta da sexualidade": estudando queixas de suas pacientes histéricas, observou que a maioria delas apresentava evidentemente sua sexualidade comprometida. Aprofundando os estudos neste campo, um de seus discípulos dissidentes, Wilhelm Reich, conclui que a perturbação da genitalidade não seria um sintoma (como apontava a linha freudiana), mas o sintoma definidor das neuroses. Dava grande importância à livre expressão dos sentimentos sexuais nos relacionamentos, propondo como meta da terapia das perturbações psicológicas a libertação dos bloqueios do corpo. Posteriores leituras de Reich nos anos 1960 deram força ao movimento hippie.
Alfred Kinsey, considerado o pai da sexologia, contribuiu para as pesquisas sobre a sexualidade humana com um conjunto de estudos que ficou conhecido como o Relatório Kinsey, trazendo ao meio acadêmico a insuspeitada diversidade do comportamento sexual da típica família branca de classe média dos anos 1950 (92% dos seus homens e 62% das suas mulheres se masturbava; 37% dos homens e 13% das mulheres já tinham tido uma relação homossexual que lhes tinha proporcionado um orgasmo.
Masters e Johnson publicaram, na década de 1970, inovadores trabalhos descrevendo a resposta sexual humana e doenças próprias da sexualidade. Com os estudos de Helen Kaplan e cols., da Universidade de Cornell (EUA), surge uma visão muito clara e objetiva de uma nova psicoterapia do sexo.
Um dos resultados práticos destes estudos, que exemplifica esta nova abordagem sobre a sexualidade: a homossexualidade deixa de ser considerada uma doença pela Associação Americana de Psiquiatria (1973) e OMS (1986).
A Sexologia na Prática Clínica:
O tratamento sexológico é todo o processo médico e/ou psicoterápico que tem como objetivo a correção dos distúrbios sexuais para propiciar adequação sexual.
O clínico, em sua prática diária, pode participar na prevenção e no tratamento dos transtornos sexuais. Entretanto, alguns requisitos são necessários:
1. Estar bem com sua sexualidade.
2. Conhecer os dados sobre a resposta sexual normal.
3. Dotar-se de um profundo respeito ético em relação à sexualidade do outro.
4. Conhecer todos os recursos atuais nas áreas da propedêutica e da terapêutica em sexologia.
É também desejável empatia e motivação, como em toda abordagem psicológica.
E a terapia alicerça-se principalmente sobre:
1. Orientação, dirimindo mitos e tabus, bem como legitimando o prazer sexual.
2. Reposição ou suplementação hormonal (estrogênios e androgênios).
3. Psicoterapia.
O dizer de Balint quanto ao "médico como medicamento" nessa situação torna-se transparente. Em uma abordagem em que se pesquisa um transtorno sexual, o médico pode (e deve) atuar como facilitador de ajuda. Porém, muitas vezes com preconceitos, desconhecimento e necessidade de impor valores, acaba se comportando como agente destrutivo (iatrogênico).
Kaplan diz que "o uso das experiências sexuais estruturadas sistematicamente, integradas ao conjunto das sessões terapêuticas, é a principal inovação e a característica distinta da terapia do sexo". Sua psicoterapia sexual é uma forma de terapia breve, que geralmente tem a duração de dois a oito meses, com frequência de uma sessão semanal do casal ou do indivíduo, e que trabalha fundamentalmente o comportamento sexual nos seus aspectos psicossociais, uma vez excluída a possibilidade do comprometimento orgânico na queixa sexual.
Disfunção, Desvio e Inadequação:
O estudo da resposta sexual humana nos diz que todos os homens são: iguais, do ponto de vista biológico; parecidos, do ponto de vista sóciocultural e diferentes, do ponto de vista psicológico. Por extensão, definimos os distúrbios do comportamento sexual segundo os aspectos biológico – disfunção, sociológico – desvio e psicológico – inadequação.
Disfunção:
Um indivíduo funcional é capaz de levar ao fim a resposta sexual normal (Desejo Sexual > Excitação, Orgasmo, Relaxamento). O conceito de normalidade, no que tange à funcionalidade, se confunde com o conceito de índivíduo hígido.
A disfunção então ocorre:
Em alguma fase da resposta sexual:
Apetência – inibição do desejo.
Excitação – Disfunção Erétil (DE), lubrificação inadequada.
Orgasmo – anorgasmias, distúrbios da ejaculação.
Ou na forma de transtornos dolorosos:
Vaginismo.
Dispareunia.
Parafilias:
O ambiente (grupos culturais, principais responsável por moldar nossa personalidade) nos dita certos padrões de comportamento, que serão aprendidos e/ou confrontados entre si e com o mundo individual ao longo de nossas vidas.
Podemos assumir duas posturas perante estes padrões:
Aceitação destes, assimilando-os e tornando-se um reforço destes padrões culturais.
Comportamento Desviante, sua contestação.
Classifica-se assim o desvio como sendo o "comportamento que foge a certo padrão cultural de uma sociedade em determinada época". As considerações com respeito ao que é considerado parafílico dependem das convenções sociais em um momento e lugar (o que é reprovado hoje torna-se modismo amanhã: homossexualidade, sexo oral, anal, masturbação…).
As parafilias podem ser consideradas inofensivas, salvo quando estão dirigidas a um objeto potencialmente perigoso, danoso para o sujeito ou para outros. São classificadas como distorções da preferência sexual na CID-10 (classe F65).
Classificação das parafilias:
Desvios do objeto: necrofilia, fetichismo, maiseufilia etc.
Desvios de objetivo: exibicionismo, voyeurismo etc.
Sendo:
Objeto sexual: qualquer ser (animado ou não) alvo da atração sexual.
Objetivo sexual: "a união sexual, ou atos que conduzam a esta união".
Inadequação:
A diferenciaçao entre adequação e inadequação segue critérios psicológicos. É um conceito relacionado ao equilíbrio interno de cada parceiro e de interações equilibradas entre eles:
Um indivíduo Adequado não se queixa, está satisfeito.
Um indivíduo Inadequado não está bem consigo mesmo ou com seu parceiro.
Um casal pode ser considerado adequado mesmo portando disfunções (homem impotente e mulher vagínica) ou desvios (homem sádico e mulher masoquista).
Em nosso meio, a inibição do desejo é a mais comum queixa sexual feminina, e anorgasmia e dispareunia também muito frequentes. Com relação aos homens, transtornos eretivos e ejaculação precoce são predominantes. Outra inadequação corrente é relativa à frequência das relações sexuais em um casal. Apesar de um ciclo da resposta sexual completo, há queixa pela desproporção entre o apetite sexual dos parceiros.
Outros distúrbios:
Transtorno de identidade sexual (transexualismo): a incompatibilidade entre anatomia genital e identidade sexual.
Ocorrem tanto as formas transexual de homem a mulher quanto transexual de mulher a homem, apesar de o primeiro ser muito mais frequente (possui corpo masculino, mas percebe-se como feminino).
É a indicação da cirurgia de mudança de sexo (Kaplan, 1985). Intervenção tecnicamente simples, mas complexa devido às questões emocionais, legais e sociais que envolve. Por ser uma mudança irreversível, deve ser muito bem avaliado e indicado: "é preciso que a parte estrutural da mente da pessoa peça isso e não por uma fantasia, uma necessidade de momento, ou por achar que uma cirurgia vai resolver uma tendência afetivo-sexual diferente".
Homossexualidade egodistônica:
Há padrão de conduta homossexual, mas associado a descontamento com essa realidade. O indivíduo possui um desejo homossexual que não quer e que causa mal-estar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário