FAHRENHEIT 451; UM BREVE COMENTÁRIO
No
início não entendi muito bem, mas na continuidade percebi que o filme tinha
muito a ver com o nazismo e seu regime totalitário. É bem verdade que o filme
era futurista na visão dos anos 60 e foi uma adaptação de um livro ainda mais
antigo. A ideia central percebida esta
no fato de haver uma proibição da leitura de livros porque os mesmos eram
subversivos e traziam à tona ideais que se divergiam da visão governamental e,
em particular, faziam com que as pessoas sentissem emoções que não estavam
acostumadas.
O
título do livro é bastante sugestivo pois apresenta a temperatura de queima do
papel, 451º F, de acordo com nosso amigo de classe ( ex-graduando de FÍSICA ).
O
protagonista, Montag, era um sujeito que inicialmente demonstrava-se muito
centrado na sua atividade de queimar livros, contudo apresentava uma expressão
de fadiga ou insatisfação apesar do seu superior mencionar diversas vezes que
ele seria promovido ao oficialato.
Apesar
da aversão apresentada aos livros percebemos uma idolatria à televisão. Até
onde pude perceber a TV exercia uma influencia mais poderosa sobre as famílias,
pois parecia um reality show ou TV Interativa, mas com respostas pré-definidas.
E assim a TV tornava os relacionamentos mais frios de acordo com a vida de
Montag e sua esposa.
Outro
poder da influencia da TV é que ela, por si só, já destruía qualquer desejo de
leitura, haja vista que os livros “não falam a realidade”. Um pequeno debate se instalou em sala de
aula; será que a televisão continua reduzindo o relacionamento humano? Hoje os
celulares, tablets e computadores estão exercendo o mesmo papel da TV na visão
do autor do século passado?
Os
romances criticados pelo capitão hoje viraram novelas... será que as novelas
ainda estão influenciando o comportamento das famílias, notoriamente a parte
feminina? Ler livros ainda é subversivo? Se não é, pelo menos quando no ônibus,
sinto-me como um peixe fora D'Água ao abrir um livro e perceber que todos estão
com fones de ouvido ou navegando nos seus dispositivos móveis.
Voltando
a Montag! Notamos que ele tinha um relacionamento um tanto difícil com a sua
esposa e só piorou a medida que ele conheceu uma jovem professora que conseguiu
fazê-lo perceber que os livros não eram tão subversivos quanto os superiores
tentavam pintá-los. Sua esposa, Linda Montag, estava convicta do mau
representado pelo livro, mas Montag já começara a ficar descrente.
Apesar
da expressão que Montag trazia, ele se dizia feliz. A separação da sua esposa
foi inevitável por causa das convicções alteradas e pelo repentino desejo de
Montag de ler livros obcecadamente e por ser contrário aquele pensamento de
culto a TV e antissentimentalismo. Sua esposa não suportou e o denunciou e,
logo após, foi embora de casa.
A
mudança do nosso protagonista está fundamentada, também, no fato de ter
presenciado uma Senhora que preferiu
morrer com seus livros que para ele não tinham nenhum valor... e, com isto, o
processo de leitura começou.
A
leitura, podemos perceber, tem um poder transformador na vida do homem, e isto
notamos quando Montag tem, aparentemente, até a sua personalidade abalada. Com
um olhar positivo a mensagem que o filme transmite é notório que naquele
momento os livros faziam mal a cabeça do protagonista e isto pode ser
constatado quando ele, de acordo co o filme, se aborrece ao ser descoberto pelo
capitão que o engana e atende a uma denuncia na sua própria casa. Lá chegando o
capitão o obriga a queimar os livros, mas ele queima também outros objetos,
notadamente a TV. A ira e insanidade tomou conta de Montag ao ponto dele
queimar o próprio capitão... símbolo da aversão a leitura.
Um
filme gerado pelos ideais de um escritor que aparentemente fez uma “grande
viagem” ao elaborar tal trama. A saída que ele deu para seu protagonista foi se
refugiar para uma aldeia onde os refugiados
desenvolveram uma técnica de memorização de livro e após queimava-o para
não ser encontrado em condição de crime por portar tal livro. Os aldeões criam
que chegaria um dia em que eles redigiriam os livros novamente.
A
impressão que tive é que a professora, que fez a introdução dele no mundo da
leitura, acabaria com ele e viveriam felizes para sempre. Muito pelo
contrário, o acordo era que não se
veriam mais. Porém o ideal foi mantido... cada pessoa memorizaria um livro,
logo após o queimaria aguardando para um dia reescrevê-lo. Se este dia não
chegasse a história seria memorizada por um mais jovem que seria incumbido de manter
a tradição. Dessa forma, foi quebrada aquela ordem de evitar a leitura de
livros... embora pareceu-me nítido que o falecido capitão, na biblioteca da
senhora que fora queimada, era um conhecedor profundo dos assuntos contidos nos
livros daquela biblioteca.
Enfim,
senti o desejo de ler o livro, haja vista que o mesmo já se encontra disponível
em meio eletrônico. Na realidade, além de ler o livro futuramente, eu recomendo
o livro e não o filme, pois a qualidade do som estava muito ruim. As ideias
transmitidas, apesar da “Grande Viagem”, fazem repensar os relacionamentos
interpessoais, o isolamento familiar, o esfriamento conjugal, além disso,
podemos fazer um paralelo entre o poder da TV no passado e os meios de
entretenimento mais modernos. Percebemos também uma crítica ao poder
totalitário, a falta de incentivo a cultura, a inversão de valores, a
influencia direta do governo na condução das famílias através de programas, a
manipulação com oferta de promoção para manutenção da tradição estatal. Se o autor
do livro que deu origem a esta obra cinematográfica não fez a ”Grande Viagem”,
posso dizer que ele foi um grande visionário... Alguém que estava além do seu
tempo.
Bibliografia
-
BRADBURY, Ray. Fahrenheit 451. Tradução de Mário Henrique Leiria. Gerou a obra cinematográfica dirigida por François Truffaut em 1966.
Reginaldo Silva de Lyra
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