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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

RESENHA: O NARCISISMO




RESENHA: O NARCISISMO



Fonte: Elisabeth Roudinesco; Michel Plon. DICIONÁRIO DE PSICANÁLISE. TRADUÇÃO: Vera Ribeiro ( psicanalista )e Lucy Magalhães ( letras neolatinas ). Editora ZAHAR, 1998.


         al. Narzissmus; esp. narcisismo; fr. narcissisme; ing. Narcissism

         Termo empregado pela primeira vez em 1887, pelo psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911), para descrever uma forma de fetichismo* que consiste em se tomar a própria pessoa como objeto sexual.
         O termo foi depois utilizado por Havelock Ellis*, em1898, para designar um comportamento perverso relacionado com o mito de Narciso. Em 1899, em seu comentário sobre o artigo de Ellis, o criminologista Paul Näcke (1851-1913) introduziu o termo em alemão.
         Na tradição grega, o termo narcisismo designa o amor de um indivíduo por si mesmo. A lenda e o personagem de Narciso foram celebrizados por Ovídio na terceira parte de suas Metamorfoses.
         Filho do deus Céfiso, protetor do rio do mesmo nome, e da ninfa Liríope, Narciso era de uma beleza ímpar. Atraiu o desejo de mais de uma ninfa, dentre elas Eco, a quem repeliu.
         Desesperada, esta adoeceu e implorou à deusa Nêmesis que a vingasse. Durante uma caçada, o rapaz fez uma pausa junto a uma fonte de águas claras: fascinado por seu reflexo, supôs estar vendo um outro ser e, paralisado, não mais conseguiu desviar os olhos daquele rosto que era o seu. Apaixonado por si mesmo, Narciso mergulhou os braços na água para abraçar aquela imagem que não parava de se esquivar. Torturado por esse desejo impossível, chorou e acabou por perceber que ele mesmo era o objeto de seu amor. Quis então separar-se de sua própria pessoa e se feriu até sangrar, antes de se despedir do espelho fatal e expirar. Em sinal de luto, suas irmãs, as Náiades e as Díades, cortaram os cabelos. Quando quiseram instalar o corpo de Narciso numa pira, constataram que havia se transformado numa flor.
         Até o fim do século XIX, o termo narcisismo foi utilizado pelos sexólogos para designar seletivamente uma perversão sexual caracterizada pelo amor dedicado pelo sujeito* a si mesmo.
         Em 1908, Isidor Sadger* falou do narcisismo, a propósito do amor próprio, como uma modalidade de escolha de objeto* nos homossexuais; distinguiu-se de Havelock Ellis ao considerar o narcisismo não como uma perversão*, mas como um estádio normal da evolução psicossexual do ser humano.
         O termo narcisismo surgiu pela primeira vez na pena de Freud numa nota acrescentada em 1910 aos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade*.
         Falando dos “invertidos” e, portanto, ainda não utilizando a palavra “homossexual”,
Freud escreveu que eles “tomam a si mesmos como objetos sexuais” e, “partindo do narcisismo, procuram rapazes semelhantes à sua própria pessoa, a quem querem amar tal como sua mãe os amou”.
         Em 1910, em seu ensaio “Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância” (1910), e em 1911, no estudo que fez sobre o caso Schreber*, Freud, a exemplo de Sadger, considerou o narcisismo um estádio* normal da evolução sexual.
         Foi em 1914, em “Sobre o narcisismo: uma introdução”, que o termo adquiriu o valor de um conceito. Fenômeno libidinal, o narcisismo passou então a ocupar um lugar essencial na teoria do desenvolvimento sexual do ser humano.
         A elaboração desse texto apoiou-se no estudo das psicoses* e, principalmente, na contribuição da Karl Abraham*. Sem utilizar essa palavra, o berlinense, num texto de 1908 que versava sobre a demência precoce, havia descrito o processo de desinvestimento do objeto e convergência da libido* para o sujeito: “O doente mental dedica a si mesmo, como objeto sexual único, toda a libido que o homem normal volta para o meio vivo ou animado. A superestimação sexual diz respeito tão somente a ele.”
         Freud adotaria essa definição da psicose na vigésima sexta lição das Conferências introdutórias sobre psicanálise*.
         No texto de 1914, a observação do delírio de grandeza no psicótico levou Freud a definir o narcisismo como a atitude resultante da transposição, para o eu* do sujeito*, dos investimentos libidinais antes feitos nos objetos do mundo externo. Freud observou então que esse movimento de retirada só pode produzir-se num segundo tempo, este precedido de um investimento dos objetos externos por uma libido proveniente do eu. Assim, podemos falar de um narcisismo primário, infantil, que a observação das crianças, bem como a dos “povos primitivos”, ambos caracterizados por sua crença na magia das palavras e na onipotência do pensamento, viria confirmar. O narcisismo primário diria respeito à criança e à escolha que ela faz de sua pessoa como objeto de amor, numa etapa
precedente à plena capacidade de se voltar para objetos externos.
         Assim, Freud é levado, no que constitui um dos pontos fortes desse texto, a considerar a existência permanente e simultânea de uma oposição entre a libido do eu e a libido do objeto, e a formular a hipótese de um movimento de gangorra entre as duas, de tal sorte que, se uma enriquece, a outra empobrece, e vice-versa.
         Nessa perspectiva, a libido de objeto, em seu desenvolvimento máximo, caracteriza o estado amoroso, ao passo que, inversamente, em sua expansão máxima, a libido do eu fundamenta a fantasia* do fim do mundo no paranoico.
         O desenvolvimento teórico constituído por esse texto implicou uma primeira reformulação da teoria das pulsões*, desaparecendo a separação entre pulsões do eu e pulsões sexuais e sendo o eu definido como “um grande reservatório de libido”.
         Antes desse avanço teórico, porém, Freud deparou com um obstáculo a propósito do narcisismo primário no momento de definir a relação deste com o auto-erotismo que fora identificado nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Assim, postulou um desenvolvimento do eu em dois tempos, com “uma nova ação psíquica” seguindo-se ao auto-erotismo, para que fosse possível atingir o estádio do narcisismo primário. Quando queremos estabelecer uma correspondência entre esse desenvolvimento e a evolução pulsional, a passagem das pulsões sexuais parciais para sua unificação, somos levados a considerar que o narcisismo infantil ou primário é contemporâneo da constituição do eu.
Como se pode constatar, e o próprio Freud o reconheceu, a questão da localização do narcisismo primário levanta inúmeras dificuldades.
                  Ele é, segundo Freud, mais difícil de observar que de deduzir. Todavia, a título de observação indireta, Freud destacou a admiração parental por “his majesty the baby” como sendo a manifestação, nos pais, de seu próprio narcisismo primário abandonado, em cujo lugar constituiu-se progressivamente seu ideal do eu.
         “O amor dos pais”, escreveu Freud, “tão tocante e, no fundo, tão infantil, não é outra coisa senão seu narcisismo renascido, que, a despeito de sua metamorfose em amor de objeto, manifesta inequivocamente sua antiga natureza.”
         No contexto da elaboração da segunda tópica*, Freud retornou a essa questão da localização do narcisismo primário, que foi então situado como o primeiro estado da vida — anterior, portanto, à constituição do eu —, característico de um período em que o eu e o isso* são indiferenciados, e cuja representação concreta poderíamos conceber, por conseguinte, sob a forma da vida intrauterina. Como assinalam Jean Laplanche e Jean-Bertrand Pontalis, essa nova formulação teve por conseqüência apagar qualquer distinção entre o auto-erotismo o narcisismo, e “é difícil discernir, do ponto de vista tópico, o que é investido no narcisismo primário entendido dessa maneira”.
         A definição do narcisismo secundário é menos problemática e a formulação da segunda tópica não modifica sua concepção, muito embora, a partir da redação de Mais-além do princípio de prazer*, Freud viesse a abandonar cada vez mais esse conceito, cuja ausência convém assinalarmos no Esboço de psicanálise*. O narcisismo secundário ou narcisismo do eu, portanto, no início da década de 1920, mantém-se como o resultado, manifesto na clínica da psicose, da retirada da libido de todos os objetos externos. Mas o narcisismo secundário não se limita a esses casos extremos, uma vez que o investimento libidinal do eu coexiste, em todo ser humano, com os investimentos objetais, havendo Freud postulado a existência de um processo de equilíbrio energético entre as duas formas de investimento que participam de Eros, a pulsão de vida, e de seu combate contra as pulsões de morte. Por outro lado, e isso atesta o caráter incontornável que teve esse conceito na evolução da teoria freudiana do desenvolvimento psíquico, o narcisismo constitui, desde o texto de 1914, o primeiro esboço do que viria a se transformar no ideal do eu*.
         A despeito de suas insuficiências e de seu estatuto ambíguo, o conceito de narcisismo serviu de ponto de partida para inúmeras elaborações pós-freudianas.
         Efetuando uma análise espectral do conceito de narcisismo, André Green, em 1976, fez o recenseamento do “destino do narcisismo” depois de Freud, sublinhando que os psicanalistas “dividiram-se em dois campos conforme sua posição a respeito da autonomia do narcisismo”.
         Em nome da defesa dessa autonomia, convém assinalar a contribuição do psicanalista francês Bela Grunberger, que concebeu o narcisismo como uma instância psíquica da mesma ordem que as instâncias freudianas da segunda tópica, e a do psicanalista norte-americano Heinz Kohut*, que, a partir da clínica dos distúrbios narcísicos, contribuiu para o desenvolvimento da corrente da Self Psychology*. Em contraste com essas concepções, Melanie Klein*, postulando a existência primária de relações de objeto, foi levada a rejeitar tanto a idéia de narcisismo primário quanto a de estádio narcísico, falando tão somente em estados narcísicos ligados a retornos da libido para objetos internalizados.
         Foi sobre o ponto até hoje confuso da localização do narcisismo primário e de sua relação com a constituição do eu que se fundamentou a concepção lacaniana do estádio do espelho*, desenvolvida em 1949. Para Jacques Lacan*, o narcisismo originário constitui-se no momento em que a criança capta sua imagem no espelho, imagem esta que, por sua vez, é baseada na do outro, mais particularmente da mãe, constitutiva do eu. O período de auto-erotismo, portanto, corresponde à fase da primeira infância, período das pulsões parciais e do “corpo despedaçado”, marcado por aquele “desamparo originário” do bebê humano cujo retorno sempre possível constitui uma ameaça, a qual se encontra na base da agressividade.
         Articulada com a teoria lacaniana, que reconhece a existência do narcisismo primário antes mesmo do estádio do espelho, a reflexão de Françoise Dolto* situou as raízes do narcisismo no momento da experiência privilegiada que é constituída pelas palavras maternas, mais centradas na satisfação de desejos do que no atendimento de necessidades.
         Esta abordagem é interessante, pois os autores fazem um levantamento da tradição grega, e verificam que o termo narcisismo designa o amor de um indivíduo por si mesmo.
         É enfatizado que no fim do século XIX, o termo narcisismo foi utilizado pelos sexólogos para designar seletivamente uma perversão sexual caracterizada pelo amor a si mesmo. Mas Em 1908 Isidor Sadger não concordava com esses argumentos, pois acreditava que o narcisismo era um estágio normal da evolução psicossexual do ser humano.
         Outra abordagem muito interessante é a comparação dos homossexuais com os “invertidos”, haja vista que de acordo com Freud eles “tomam a si mesmos como objetos sexuais” e, “partindo do narcisismo, procuram rapazes semelhantes à sua própria pessoa, a quem querem amar tal como sua mãe os amou”.
         Freud definiu o narcisismo, em outras palavras, como o resultado da transferência dos investimentos libidinais para o “EU” próprio, antes voltados para o outro.  O comentarista afirma que ele deparou com um obstáculo a propósito do narcisismo primário no momento de definir a relação deste com o auto-erotismo que fora identificado nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Assim, é considerado que o narcisismo infantil ou primário está diretamente relacionado com a formação do EU.
         Já que há uma dificuldade de separação da formação do EU com a instalação do narcisismo infantil ou primário podemos concluir que o narcisismo atual seria um regresso ao amor dos pais, isto é, amar ao outro como quem está de fato recebendo o amor dos pais... na realidade é um amor próprio, voltado para si como quem repete o amor outrora recebido. Freud considerou posteriormente que o narcisismo infantil se instalou antes da constituição do EU criando assim  a diferença entre narcisismo e auto-erotismo.
         No narcisismo secundário, cuja problemática é menor, o EU está fortalecido e o amor aos objetos esternos está reduzido e não aniquilado. Dessa forma, percebe-se que o narcisismo é o primeiro esboço do que viria a se transformar no ideal do eu e a pulsão de vida continua coexistindo em combate a pulsão de morte.


Reginaldo Silva de Lyra

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