PSICANÁLISE- RESENHA
DO LIVRO: EVANGELIZAÇÃO E MATURIDADE AFETIVA
CAPÍTULO III- EM QUE CONSISTE A AFETIVIDADE HUMANA
O Dr. Alfonso Garcia Rubio desenvolveu este capítulo com
clara intenção de mostrar em que consiste a afetividade humana, contudo viu a
necessidade de expor alguns pontos de relevância para a compreensão do leitor.
Ele mostra a desvalorização da realidade corpóreo-sensível, expõe amplamente o
contexto relacional de autoconservação e expansão. É mostrado, ainda, o
relacionamento da afetividade com “o desejado” ou “temido” e tendo S. Freud
como referência, faz a afirmação de que as experiências infantis marcam o ser
humano e ficam enraizadas no nível biológico da afetividade, além de Freud ele
faz referência a vários escritores tais como: P. Trotignon que traça a
diferença entre a afetividade animal e humana, a ironia de J. Nuttin, as
questões levantadas por M. Boss inspirado por M. Heidegger.
O
autor inicia evidenciando que na visão
clássica do ser humano dava-se mais atenção para a espiritualidade e
desvalorizava-se a realidade corpóreo-sensível, isto é, os afetos, emoções e
sentimentos; com isto o racionalismo e a vontade livre se destacavam. Nota-se
que é num contexto relacional que são vivenciadas a autoconservação e expansão
num nível psíquico, ainda que ocorra, também, no nível biológico. O Dr. Alfonso
Garcia Rúbio expõe acerca do contexto relacional, percebido na página 63; ele mostra
a necessidade de autonomia e de autoconfiança para ocorrer o relacionamento
inter-pessoal. Há uma refirmação da autoconservação e abertura, na página 64,
como sendo por toda vida.
A
afetividade, inicialmente, está relacionada com “o desejado” ou “o temido”, mas
acima de tudo, o objeto afetivo precisa ser interiorizado pelo sujeito. Não se
pode negar a origem da afetividade que intimamente ligada às sensações de dor e
prazer. A medicina psicossomática, de acordo com a página 66, aponta para a
conexão entre o biológico e o psíquico; Dr. Alfonso cita que S. Freud mostrou
como as experiências infantis ficam enraizadas nas experiências biológicas e
exercem influencia no amadurecimento da personalidade e da afetividade. Apesar
do amadurecimento afetivo se iniciar em nível biológico não se pode afirmar que
o ser humano tem sua maturidade enraizada na sua biologia, pois o ser humano
tem um diferencial, a espiritualidade.
A
afetividade está enraizada ao nível biológico, mas vai além, não se pode desprezar
os demais níveis (psíquico e espiritual). O nível psíquico trás de volta a ideia
de autoconservação e abertura, contudo o nível espiritual amadurece depois
porque é preciso despertar a realidade “da autonomia pessoal, da liberdade, do
amor amadurecido, da autotranscendência em relação ao mundo das coisas, do
encontro com o transcendente, da abertura ao ilimitado” ( página 68 ).
É citada
na página 69 a afirmação de P. Trotignon de que a diferença entre a afetividade
animal e humana sintetiza-se na linguagem e na existência sócio-histórica.
Ainda na
página 69 é ressaltada a diferença psicológica entre desejo e necessidade;
quanto à “necessidade” aparece a tendência de manipulação contrario ao “desejo”
que valoriza a “novidade”. Já na página
70 mostra a relação existente entre dinamismo básico da pessoa e a afetividade;
de acordo com o autor a afetividade é o dinamismo básico que encontrou reflexo
na consciência do sujeito e o faz reagir.
Assim como a afetividade esta
enraizada no nível biológico, da mesma forma está a emoção. O papel da
representação e a contribuição imaginária influenciam muito nas reações
emotivas. O sentimento está mais próximo do nível espiritual e a emoção do
biológico, mas isto se dá também porque o sentimento é lento e parece ser fraco
ao passo que a emoção é rápida e passageira. O sentimento inter-humano é muito
importante na maturidade afetiva, quase igual as necessidades biológicas, pois
o ser humano é co-humano. A afetividade humana é também ambivalente, isto é,
pode ser representada tanto pelo amor como pelo ódio.
Percebe-se,
ainda, na página 74, a alusão Freudiana ao inconsciente, sendo o captador de
tudo e não o consciente. As repressões dão origem aos sintomas neuróticos e
estes não devem ser negligenciados por conta de um orgulho que não reconhece o
poder do inconsciente, se isto acontece, o ser humano deixa de amadurecer sua
personalidade. Para ser realista há necessidade do reconhecimento do
inconsciente e aceitar a função preponderante do sono na recuperação do
psiquismo e na função compensatória junto com o sonho. O professor e Dr.
Alfonso faz referência a ironia de J. Nuttin na pagina 77, quando este diz que
“ a mistura do normal com o patológico pode ser considerada normal”. O
individuo relativamente sadio passa pelas dificuldades, pressões e conflitos da
vida e todas estas contribuem para maturidade do indivíduo.
O Dr.
Alfonso Garcia Rúbio conseguiu produzir, através de pesquisas e de seu próprio acúmulo
de conhecimento absorvido durante a sua caminha intelectual, um excelente
material para elucidar as questões da afetividade. A forma extremamente
profissional com que ele conduziu o raciocínio facilitou o acompanhamento e o
desenrolar dessa prazerosa atividade de leitura.
Numa visão
mais ampla ele se reporta a conservação
e expansão não sendo possíveis sem a contínua troca bioquímica com o meio
ambiente. Para conservação e desenvolvimento do dinamismo básico do organismo
vivo é necessário um relacionamento, uma troca e não uma auto-existência
isolada. Outro ponto muito significativo é o do reconhecimento da própria
identidade-autonomia na abertura aos outro como vida; isto se dá devido a
necessidade que o ser humano tem de relacionar-se com outrem, ainda que da
forma mais simples até ao relacionamento amoroso.
Quando o
autor tange a questão da transcendência, aprofundando-se na existência humana,
e expõe dados físico-biológicos e psíquicos e faz o leitor deparar com o nível
espiritual, isto faz lembra o homem em sua totalidade ( corpo, alma e espírito
) e equilíbrio. A necessidade de autoconservação e abertura transcende toda
existência humana, indo além dos níveis de afetividade, mesmo sendo o ser
humano uma pessoa única e indivisível.
Percebe-se,
ainda, que o Professor Dr. Alfonso na sua obra
mostra que, em geral, costuma-se priorizar os aspectos racionais e espirituais
do ser humano em detrimento da afetividade (pulsões, emoções e sentimentos). A
psicanálise aponta a todo o momento que as experiências infantis marcam o
psiquismo do homem de forma preponderante e o inconsciente é o agente desse
trabalho. Dessa forma a personalidade e forjada e aí se instalam as neuroses
com suas crises afetivas.
Mesmo
sendo este livro riquíssimo, foi notado que alguns pensamentos foram repetidos
tais como a autoconservação e abertura, a visão clássica e o dinamismo básico.
O outro ponto que poderia se menos enfático é quando o autor equipara a
necessidade de sentimento e até coloca num patamar superior a necessidade
biológica-fisiológica. O sonho aparece na visão do autor como o grande redentor,
mas ele pode ser um sonho de angustia, pode ser uma recordação que vai trazer
mais tristeza que ajustamento, além disso, o sonho pode ser a realização de um
desejo proibido e até censurado pelo nosso consciente.
Fora estes
pequenos detalhes, observa-se que este livro proporciona uma leitura prazerosa
e muito enriquecedora; ele faz o leitor, enquanto evangelizador, refletir acerca
de vários assuntos, entre eles destacamos os
vários aspectos da afetividade, a proposta de uma humanização preocupada com os
afetos e a visão biológica, psíquica e espiritual constantes no ser humano que
precisa amadurecer sempre.
TODO EVANGELIZADOR PRECISA CONHECER OS ASPECTOS AFETIVOS QUE ENVOLVEM NÃO SÓ O PACIENTE DO EVANGELHO, MAS, TAMBÉM, A SI MESMO COMO AGENTE AFETIVO... GRAÇA E PAZ.
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